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Representante da FAO aposta no consumo de insetos: vai ser como sushi

A produção em larga escala de insetos para o consumo humano e como ração animal está sendo incentivada pela organização em relatório


Devorar um suculento prato de larvas, gafanhotos puxados no alho ou formigas crocantes pode parecer prova de resistência de um reality show qualquer, mas, se depender da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), pode se tornar uma prática comum no dia a dia de qualquer terráqueo.

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Em Pequim é possível experimentar diferentes tipos de insetos em barracas nas ruas
Foto: AFP
Questionado sobre a resistência que fatores culturais podem gerar especialmente entre os ocidentais, Paul Vantomme - representante da organização em Roma - lembra o quão esquisito podia parecer para os mesmo ocidentais, há não mais de 20 anos, comer peixe cru. “Com a globalização, o sushi, aos poucos, se instalou nos restaurantes, nas cidades, e agora é uma coisa normal. Isso não quer dizer que vamos comer sushi todos os dias. Comemos quando temos vontade, outro dia fazemos um churrasco ou uma feijoada. Por que não, uma vez por mês, comermos algo exótico, como insetos?”, diz ele, apostando que ainda se tornará natural, vez ou outra, trocarmos o churrasco por uma macarronada com almôndegas feitas de larva.

Na última segunda-feira, a FAO divulgou um relatório em que incentiva a criação em larga escala de insetos para o consumo humano. Descontextualizada, a proposta pode gerar algum espanto. No entanto, há pelo menos uma década a organização analisa dietas baseadas na ingestão de insetos como fonte de proteínas, especialmente na Ásia e na África. “Os estudos começaram na África, onde a contribuição dos insetos como fonte de proteína na dieta é muito alta. Em alguns casos, na República Central da África, na época de chuvas, pode chegar a 30% da proteína que entra na dieta, já que a caça e a pesca ficam muito comprometidas com as cheias”, explica Vantomme.

A Tailândia é outro país onde o consumo de insetos é regular. Segundo o representante da FAO, além de uma prática saudável, a opção pelos insetos é também uma garantia de renda para moradores da região. “Hoje, na Tailândia, mais de 20 mil pequenos produtores têm uma renda oriunda da criação de insetos para comer ou como ração para animais”, afirma Vantomme, um belga que viveu por anos no Brasil e acredita que a produção de insetos possa se tornar uma atividade comum no País. “O objetivo da FAO é, em primeiro lugar, levar este conhecimento aos nossos países membros, para que eles possam estar cientes dessa oportunidade, e também fazer uma transferência de tecnologias, de experiências sul-sul, por exemplo, da Tailândia para o Brasil , ou do Brasil para Angola. É uma oportunidade fantástica que pode melhorar as condições de vida dos pequenos produtores”, destaca.

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Chef prepara taco recheado com gafanhotos em um restaurante mexicano
Foto: AFP


Insetos x Fast Food

Ao incentivar a produção de insetos, no entanto, a FAO não pretende que, de um dia para o outro, povos que há dezenas de gerações fazem de sua fonte de proteína exclusivamente alimentos como carne bovina e soja estejam ingerindo, quase à força, grilos e cupins. Os dois principais objetivos, esclarece Vantomme, são fazer com que povos hoje adeptos da entomofagia (a prática de comer insetos) não percam esta tradição: “a influência das dietas europeias e americanas, com McDonald’s e pizza, faz com que as dietas tradicionais percam cada vez mais o prestigio, a importância que têm”, diz. E, além disso, introduzir a criação em larga escala dos insetos, inicialmente, na ração para os animais, “substituindo parte da soja e da farinha de peixe, que são muito caras e importantes como fonte de proteína”.

"A influência das dietas europeias e americanas, com McDonald’s e pizza, faz com que as dietas tradicionais percam cada vez mais o prestigio, a importância que têm." Paul Vantomme, sobre o incentivo da FAO à entomofagia

Além de muito mais barata, a farinha que pode ser conseguida a partir de insetos secos e triturados não gera os impactos negativos para o meio ambiente desencadeados pela produção de outras substâncias. “Os impactos ambientais tanto para a produção de soja como para a produção de farinha de peixe são consideráveis. A grande potencialidade dos insetos na criação em larga escala é justamente que para eles o desperdício orgânico é nutrição, é comida. Eles podem transformar uma parte desse desperdício orgânico em proteínas de alta qualidade, diretamente consumíveis pelo homem”, diz Paul Vantomme.

Baixo custo

Outra vantagem apontada pelo representante da FAO é o baixo custo para se produzir insetos. “Com US$ 50 é possível ter os equipamentos necessários para a criação de grilos, por exemplo, permitindo que pessoas que não possuem terras possam criar insetos. O material orgânico para alimentar esses insetos também é de fácil manipulação. Restos de comida que colocamos fora podem alimentá-los”, explica.

De acordo com Vantomme, alguns países estão muito avançados na criação industrial, como a África do Sul. Outros, como a Tailândia, se destacam em escala familiar. “A produção de insetos é possível para todo mundo, tanto para os países em desenvolvimento, quanto para os países desenvolvidos. Tanto para a pequena produção, quase doméstica, como para o investimento de milhões de dólares na criação de grandes unidades industriais”, afirma.

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Em Vientiane, capital do Laos, é fácil encontrar diferentes tipos de insetos prontos para serem degustados
Foto: AFP

Vantomme vê oportunidades na área para o Brasil. “O processamento dos insetos é muito fácil. Crescem muito rápido, em três semanas, um mês já temos rotação. E, uma vez que estão adultos, basta colocar na água quente para matá-los e depois deixar secar ao sol, fazer um tipo de farinha e vender como um complemento para as rações de frangos ou para a criação de camarões. Os insetos podem ser uma grande oportunidade para a indústria de camarões do nordeste brasileiro”, diz.

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Um longo caminho ainda deve ser percorrido até que os gafanhotos conquistem seu lugar ao sol ao lado do sashimi, mas a FAO promete continuar incentivando a troca de conhecimento e tecnologia entre os países para que a entomofagia saia das tribos e comunidades asiáticas e africanas e ganhe o mundo, e não só a título de prato exótico em restaurantes luxuosos, como no dinamarquês Noma (o melhor restaurante do mundo pela lista San Pellegrino).

Fonte: Notícias Terra

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